25 de jun. de 2010

ANJO

Em cada precipício me sento
e um anjo me sussurra com calma
as encruzilhas,
as estradas desconhecidas.

Todos os meus anseios
estão em suas mãos
e com seu hálito me acalma,
me acalanta.

Durma, ele me diz, sentado
na beira de minha sombra,
não tenha medo dos sonhos.

MURRAY, Roseana. Carteira de Identidade. Rio de Janeiro. Ed. Lê.

22 de jun. de 2010

A FALTA

A morte (do latim mors), o óbito (do latim obitu), falecimento ou passamento são termos que podem referir-se tanto ao término da vida de um organismo como ao estado desse organismo depois do evento.
A morte é o fenômeno natural que mais se tem discutido tanto em religião, ciência, opiniões diversas. O Homem, desde o princípio dos tempos, tem a caracterizado com misticismo, magia, mistério, segredo. Para os céticos, a morte compreende o cessar da consciência, exatamente quando o cérebro deixa de executar suas funcionalidades.
É o cessar da vida, seja ela física, moral, intelectual, jurídica, morrida ou matada. A morte é também o jeito que Deus tem de te mostrar que você é procurado. Em algumas religiões a morte é considerada como uma salvação, como um marco que será relembrado por todos e até pelo Deus em questão. Mas ainda há quem diga que a morte é a passagem da vida na Terra para a vida no Céu ou no Inferno . Mas também acredita-se que a morte é apenas um cortador de cana, solitário, que ainda não encontrou amigos para conviver, e fica andando com roupas pretas e uma foice (seu objeto de estimação) para tentar chamar a atenção de EMO's que gostam de seu jeito de viver. A morte também gosta de visitar sem aviso, se ela bater na sua porta, não atenda... ou atenda vai ser um a menos!
Não sei porque ainda associo a imagem da morte à embarcação do Caronte... coisas de pensamento grego...
Quando morremos estamos apenas retornando para a nossa verdadeira vida. Nossa estadia na Terra é temporária e muito curta. A vida do espírito é eterna, a vida é passageira e curta e um dia todos nós iremos nos encontrar. Todas as lágrimas e sofrimento que temos depois da morte de nossos parentes é inútil, é perder tempo e poderia ser evitado se todos tivessem um entendimento mais claro sobre a vida e a morte.
Isso tudo não elimina a tristeza...

15 de jun. de 2010

A LÍNGUA MÃE

Não sinto o mesmo gosto nas palavras:
Oiseau e pássaro
Embora elas tenham o mesmo sentido.
Será pelo gosto que vem de mãe? de língua mãe?
Seria porque não tenho amor pela língua de Flaubert?
Mas eu tenho.
(Faço esse registro
porque tenho a estupefação de não sentir com a mesma riqueza
as palavras oiseau e pássaro)
Penso que seja porque a palavra pássaro em
mim repercute a infância
E oiseau não repercute.
Penso que a palavra pássaro carrega até hoje
Nela o menino que ia de tarde pra
debaixo das árvores a ouvir os pássaros.
Nas folhas daquelas árvores não tinha oiseaux
Só tinha pássaros.
É o que me ocorre sobre língua mãe.

Manoel de Barros – In: O fazedor de amanhecer, 2001

8 de jun. de 2010

Zeca Hilst

"Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse"



O texto é velhinho, mas o disco vale muito a pena.... Amo o Baleiro e a Hilda diz muito do que eu gostaria de dizer!


A poesia sonora de Hilda Hilst no baleiro de Zeca

Foi por iniciativa de Hilda Hilst (1930 -2004) que Zeca Baleiro se tornou parceiro da poeta paulista. Ao receber uma cópia do primeiro disco do compositor maranhense, Por Onde Andará Stephen Fry? (1997), enviada pelo próprio artista, Hilst ligou, propôs a parceria e mandou um disquete com sua obra poética.Foi no disquete que Baleiro descobriu o livro Júbilo Memória Noviciado da Paixão - escrito pela Hilda quando estava apaixonada platonicamente pelo Júlio de Mesquita Neto (vide as iniciais) - e decidiu musicar os versos do capítulo que dá título ao disco.

Depois de dois anos de trabalho, a gravadora de Zeca Baleiro, Saravá Disco, lançou o CD Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio - com poemas de Hilda Hilst musicados pelo artista maranhense.

O disco, segundo Zeca Baleiro, começou a ser gravado em abril de 2003 e teve aval da escritora e a colaboração do violonista Swami Jr. nos arranjos de base. Para musicar os dez poemas, Baleiro buscou uma sonoridade que se encaixasse nos poemas já em essência muito musicais de Hilst. Instrumentos como harpa, oboé e fagote ajudaram a criar o clima. Para dar mais charme ainda ao disco, Baleiro contou com a adesão de dez cantoras para interpretar as canções. Pela ordem de entrada no CD, o time é formado por Rita Ribeiro, Verônica Sabino, Maria Bethânia, Jussara Silveira, Ângela Ro Ro, Ná Ozzetti, Zélia Duncan, Olívia Byington, Mônica Salmaso e Ângela Maria.

As intérpretes estão à vontade no despudorado universo poético de Hilst. O único deslize é de Ângela Maria, que, por conta de seu estilo naturalmente empostado, ficou meio deslocada. Mas no todo, o trabalho tem bom acabamento melódico, garantido pelo repertório de tom linear que assegura a uniformidade das canções ao mesmo tempo em que conta a história do amor impossível de Ariana e Dionísio. Um dos melhores momentos do disco é a Canção V, interpretada por Angela Ro Ro.

Título: Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio
Artista: Vários
Gravadora: Saravá Discos

*Hilda Hilst faleceu no dia 04 de fevereiro de 2004, na cidade de Campinas (SP).

2 de jun. de 2010

“O homem: as viagens”

O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua

Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.

Vamos para Marte – ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?

Claro – diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto – é isto?
idem
idem
idem.

O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
do solar a col-
onizar.
o acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.

in ANDRADE, Carlos Drummond. Nova reunião: 19 livros de poesia – 3ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978. p.448-450
ULYSSES

(Fernando Pessoa)

O Mytho é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mytho brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos creou.

Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade.
E a fecundal-a decorre.
em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

1 de jun. de 2010

EU...

Eu queria tanto encontrar
Uma pessoa como eu...

Se eu fosse uma cor: AZUL
Se eu fosse um perfume: JASMIM
Se eu fosse uma flor: GIRASSOL
Se eu fosse um sabor: DOCE
Se eu fosse um doce: SORVETE
Se eu fosse um ritmo: SAMBA
Se eu fosse uma estação: VERÃO
Se eu fosse um horário: MANHÃ
Se eu fosse um lugar: PRAIA
Se eu fosse uma textura: CETIM
Se eu fosse um tecido: ALGODÃO
Se eu fosse uma roupa: VESTIDO
Se eu fosse um calçado: CHINELO
Se eu fosse um acessório: COLAR
Se eu fosse uma música:  A MENINA DANÇA (MORAES MOREIRA)
Se eu fosse um filme: O MÁGICO DE ÓZ (O DE 1939)
Se eu fosse um livro: A BELA E A FERA (CLARICE LISPECTOR)
Se eu fosse uma trilha sonora: O CASAMENTO DO MEU MELHOR AMIGO (DE 1997)
Se eu fosse um poema: PROFUNDAMENTE (MANUEL BANDEIRA)
Se eu fosse uma banda: OS PARALAMAS DO SUCESSO
Se eu fosse um cantor: ZECA BALEIRO
Se eu fosse uma cantora: MARISA MONTE
Se eu fosse um compositor: CHICO BUARQUE
Se eu fosse um momento: A ETERNIDADE
Se eu fosse uma cidade: RECIFE
Se eu fosse um sentimento: SOLIDÃO
Se eu fosse uma palavra: AMOR
Se eu fosse um dia da semana: SÁBADO
Se eu fosse um videoclipe: ELA DISSE ADEUS (PARALAMAS)
Se eu fosse um álbum: VENTURA
Se eu fosse um desenho: CAVERNA DO DRAGÃO
Se eu fosse uma escritora: CLARICE LISPECTOR
Se eu não fosse eu: TENTARIA CHEGAR MAIS PERTO DE MIM!